O que são comunidades quilombolas e povos tradicionais?
As comunidades quilombolas são formadas por descendentes de africanos escravizados que resistiram à opressão por meio da ocupação coletiva da terra, formando os chamados “quilombos”. Já os povos e comunidades tradicionais incluem indígenas, ribeirinhos, extrativistas, pescadores artesanais, ciganos e outros grupos com modo de vida ligado à natureza e ao território.
Ambos possuem direitos territoriais e culturais assegurados na Constituição Federal e em tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário.
Base legal do direito das comunidades tradicionais
Constituição Federal (1988)
- Art. 68 do ADCT: “Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir os respectivos títulos.”
- Art. 231: Garante os direitos territoriais e culturais dos povos indígenas, extensíveis a outros povos tradicionais por interpretação constitucional e convenções internacionais.
Decreto nº 4.887/2003
Regulamenta o processo de identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por quilombolas.
Convenção 169 da OIT (ratificada pelo Brasil)
Garante aos povos indígenas e tribais o direito de serem consultados prévia, livre e informadamente sobre decisões que afetem suas terras e modos de vida.
Quais são os direitos territoriais dessas comunidades?
1. Reconhecimento e titulação da terra
O direito à terra tradicionalmente ocupada é coletivo, inalienável, imprescritível e impenhorável.
O processo inclui:
- Autodeclaração da comunidade;
- Estudo antropológico e técnico;
- Delimitação e demarcação do território;
- Emissão de título coletivo pelo INCRA (para quilombolas) ou pela Fundação Palmares.
2. Proteção contra invasões e grilagem
As terras reconhecidas não podem ser vendidas, divididas ou invadidas. São protegidas contra grileiros, mineradoras, fazendeiros e empreendimentos sem consulta prévia.
3. Acesso a políticas públicas específicas
Comunidades tradicionais têm direito ao acesso diferenciado a programas de habitação, saúde, educação, crédito rural, assistência técnica e apoio à produção, com base no respeito à sua cultura e autonomia.
Quais são os desafios enfrentados?
Apesar da garantia legal, muitas comunidades enfrentam:
- Morosidade no processo de titulação (alguns levam décadas);
- Conflitos agrários com latifundiários, garimpeiros e grandes empreendimentos;
- Falta de assistência jurídica para enfrentar ações judiciais ou administrativas;
- Preconceito institucional e ausência de consulta prévia em decisões estatais.
Esses fatores colocam em risco não apenas o direito à terra, mas a sobrevivência física e cultural desses povos.
Papel dos advogados e da sociedade civil
O apoio jurídico é fundamental para garantir:
- Defesa em ações possessórias;
- Acompanhamento nos processos de titulação;
- Assessoria em audiências públicas e consultas populares;
- Acesso a políticas públicas e programas governamentais.
Além disso, a sociedade civil pode exercer pressão política, fiscalizar violações de direitos e fortalecer as organizações de base das comunidades tradicionais.
Conclusão
O Direito das comunidades quilombolas e povos tradicionais é parte fundamental da justiça social no campo. Mais do que garantir terra, trata-se de respeitar culturas, histórias e modos de vida que fazem parte do patrimônio nacional.
A efetividade desses direitos exige atuação jurídica, política e institucional firme, além do combate ao racismo estrutural e à invisibilidade histórica desses povos.